quinta-feira, 22 de julho de 2010

O PASSADO: Apenas passa ou se eterniza?



Sabe-se que o tempo decorrido é irreversível, mas o que nele aconteceu é intocável e inviolável. Partimos para uma exemplificação imagética que Frankl (2003) traz em seu livro "Psicoterapia e sentido da vida", na qual ele diz que o pessimista assemelha-se a um homem que está diante de um calandário de parede e vê, com medo e tristeza, como o calendário (a que arranca diariamente uma folha) fica cada vez mais fino; ao passo que quem conceber a vida da forma como disse na primeira frase deste texto, assemelha-se com um homem que cuidadosamente toma a folha que acabou de separar do calendário, para juntá-la às restantes já arrancadas, sem deixar de inscrever no verso uma notícia a modo de diário, a fim de se lembrar, com orgulho e alegria, de tudo o que está nessas notícias (de tudo que na sua vida foi realmente vivido).
Ao falarmos em passado, nas coisas que para trás ficaram, lembramo-nos das pessoas que estão na Terceira Idade, às quais apresentam mais realizações do que possibilidades, ao contrário de como, geralmente, acontece com as pessoas jovens.
"Mesmo que este homem repare ter envelhecido, que importa? Poderia, só por isso, olhar com um coração invejoso para a juventude de outros homens ou lembrar melancolicamente sua própria juventude? Porque, afinal - pois é isso o que antes deve perguntar-se - o que é que tem a invejar num homem moço? As possibilidades, talvez, que um homem jovem ainda tem, o seu futuro? "Muito obrigado" - pensará entre si - no meu passado tenho eu realidades, em vez de possibilidades: não apenas a realidade das obras realizadas, mas a do amor amado e das dores sofridas. E por estas é que mais orgulho eu sinto, muito embora sejam elas as que menos inveja despertam..."
Quão bom é saber que o passado está fixado, sendo, portanto, seguro. As realizações, embora passadas, ficaram guardadas, eternizaram-se, não se perderam juntamente com as pessoas que por algum motivo passaram por nossas vidas e não estão mais; momentos vividos de forma singular e que não voltam mais, por mais esforços que fizermos... reviver tudo isso é impossível, porém o que vivemos ficou guardado e intocável e ninguém pode arrancá-lo.
Certa vez ouvi uma frase que dita de outra maneira intencionava expressar que o passado é conhecido e imutável, o futuro, no entanto, é desconhecido e mutável, cabendo, no presente, agirmos de forma a configurar o nosso existir!

O passado passa de forma que não podemos resgatá-lo mais da mesma forma, contudo eterniza-se, o que me traz segurança ao saber que mesmo que sintamos saudades de algo ou alguém, o que passou, parece contraditório, mas mesmo ao acabar, ficou na eternidade. Porém, apesar da segurança, me traz também temor: pois a cada momento arco com a responsabilidade pelo momento seguinte, jáque as menores e maiores decisões ficarão para toda a eternidade!

Karen Guedes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário